Conta uma lenda judaica que Deus convidou um rabino para conhecer o céu e
o inferno. Foram primeiro ao inferno. Ao abrirem a porta, viram uma sala em
cujo centro havia um caldeirão onde se cozinhava uma suculenta sopa. Em volta
dela, estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas. Cada uma delas segurava
uma colher de cabo tão comprido que lhe permitia alcançar o caldeirão, mas não
suas próprias bocas. O sofrimento era imenso.
Em seguida, Deus levou o rabino para conhecer o céu. Entraram em uma sala
idêntica à primeira: havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta, as colheres
de cabo comprido. A diferença é que todos estavam saciados.
“Eu não compreendo”, disse o rabino. “Por que aqui as pessoas estão tão
felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se tudo é igual? Deus sorriu
e respondeu: “Você não percebeu? É porque aqui eles aprenderam a dar a comida
uns aos outros”
Acho que essa história mostra como nenhuma outra a importância da
solidariedade, da amizade, entretanto, ao lado desses sentimentos, acredito
também que, no casamento, como na vida, é preciso ter esperança.
Os gregos diziam que Pandora abriu a tampa de sua caixa e todas as pragas
se espalharam pelo mundo antes que ela conseguisse tampar a caixa de novo.
Quando conseguiu corrigir seu erro, só tinham sobrado dentro da caixa a
esperança e o medo. É é por isso que até hoje o homem sente medo sempre que tem
esperança. Mas se você não tiver esperança, só lhe sobra o medo.
Talvez o desespero seja uma esperança que já nasce morta e aí se volta
contra você e o consome, enquanto o cinismo é uma forma de covardia, implica a
desistência da coragem, de sentir esperança.
Sei que não está fácil sentir esperança e quem sente está nadando contra
a correnteza. Você pode ficar preso no mesmo lugar a vida inteira se você
quiser, simplesmente impedindo-se de acreditar.
Se você não aceitar amor quando lhe for oferecido, não pedir amor quando
precisar e não der amor quando estiver sentindo, nunca vai descobrir.
Portanto, esta é uma esperança ativa e não passiva, o que significa não
esperar que os deuses adivinhem os seus desejos, mas ajudá-los um pouquinho
nessa tarefa. E se isso implica o risco de se desapontar, paciência. Você não
pode se condenar ao inferno antes de conhecer o paraíso.